quarta-feira, 7 de março de 2012

desabado

o modo de dizer
dizer com modos
modalidades de escrita
tudo isso e nada vai
tenho uma frase presa na garganta
uma frase bombástica
daquelas que merecem a indiferença
o castigo supremo
de quando se pode dizer tudo
e daí?
grandes monstruosidades passam desapercebidas
crimes hediondos não causam espanto
sofrimento silenciado na ponta-da-língua
e mais o quê
seria importante o dizer?
o que me fez pensar?
sei que existem territórios
sei que existem patrulheiros
sei que existem leões-de-chácara
para garantir a ordem
polícia é pros pequenos
e o que eu queria dizer?
queria dizer para não esperar nada de mim
material, espiritual, ou natural
pois nada tenho a oferecer
mas
quem sabe
superada essa fase
da lepra do fracasso
do fim da solidariedade
do cinismo hegemônico
da paranoia desmando
mas
nunca passa
tudo passará
antes passe eu
última punição de não colher o que plantei
pois a terra não era minha
mas de quem?
a quem pertence o tecido que nos une?
falta registrar isso
nos moldes das palavras


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