quarta-feira, 7 de março de 2012

desabado

o modo de dizer
dizer com modos
modalidades de escrita
tudo isso e nada vai
tenho uma frase presa na garganta
uma frase bombástica
daquelas que merecem a indiferença
o castigo supremo
de quando se pode dizer tudo
e daí?
grandes monstruosidades passam desapercebidas
crimes hediondos não causam espanto
sofrimento silenciado na ponta-da-língua
e mais o quê
seria importante o dizer?
o que me fez pensar?
sei que existem territórios
sei que existem patrulheiros
sei que existem leões-de-chácara
para garantir a ordem
polícia é pros pequenos
e o que eu queria dizer?
queria dizer para não esperar nada de mim
material, espiritual, ou natural
pois nada tenho a oferecer
mas
quem sabe
superada essa fase
da lepra do fracasso
do fim da solidariedade
do cinismo hegemônico
da paranoia desmando
mas
nunca passa
tudo passará
antes passe eu
última punição de não colher o que plantei
pois a terra não era minha
mas de quem?
a quem pertence o tecido que nos une?
falta registrar isso
nos moldes das palavras


ritmo quase dissoluto

andando em cores que desatam flores num tom mais ameno
sem longos presságios de deuses que foram um dia serenos
não ajo mais cego de longe ou de perto de mares revoltos de inverno
mas antes da noite sutil segurança sabendo o amanhecer espero
quem sabe talvez um manto revolto
de fel odioso descendo a garganta tarântula vez
não sei bem por que seu ódio se foi
seu manto sobrou seus ares de amor
sem sono sem dor num dia de abril
que hoje não temo seu tom sedutor seu fácil ardor
em sonhos venenos antigos maus-tratos
levantes estáticos findaram somente
mas digo sem termo meu fruto exerço sem mais ou melhor
orgulho de merda não vê um ao outro nem faz-se maior
acorde sombrio de ranço ou de brio mormente não mais
samba decadente em notas cadentes melodias de abril
ritmo dissoluto
discordo agora você sem demora não diz nunca mesmo
nem quer nunca mais
nem quer nunca assim
não mais

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me rendo

se antes eu diria
agora a contento
contendo poesia
andando pelo vento
ventania sussurrante
disse que sou pouco
disse que sou lento
disse eu sou atento
assim quase louco
venho e me defendo
nesse instante
me roendo
sem sofrer
por prazer
de soltar
cordão
caiu
chão
poeira
e carvão
logo alí me rendo


poema experimental

poema experimental
pô experimenta
experiencia mental
espere minta
espere menta
esfera fere
mente põe mais
o tal
perímetro
perna
pena
exprima
esprema a pena
fere a perna
fere o pé
rima
pomar o tal o men ri
experto esperto aperto aporte mental
delícia de menta rima com jornal


olho ogro

caiu no engodo
tá sem rebolado
tá bolado
tá um ogro
as vacas magras
desse severo olho
não são sacrificadas
não dão nem pro molho
não vira piada
por ser gordo
pensa em colosso
mas tá no osso
não tem saída seu olho
inspirar
expirar
respirar
mas não se esqueça
bolha bizoio
de pirar uma só vez
uminha
nadinha
pra sair da ladainha
do ouro-de-tolo
olho almofadinha
perca-se
perca a linha
perca o lenço
seu boné
e até
vire do avesso
fique sem endereço
saia do sossego
do seu abrigo
pra brincar comigo
ao invés de me espetar
com seus espinhos
olho sozinho
olho ogro


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