terça-feira, 9 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo V

Anima Populi

O Inimigo
_Peraí, quem é você?

_Sou aquela que vira o jogo
Sou feita de luz do Sol
Vivo no centro do fogo
Que seu poder eu dissolvo
Meu nome é Anima Populi
A alma do povo eu sou
Nenhum sonho matou
Porque sonhos não morrem
Nenhum de seus truques é novo
Nem o que deles decorrem

O Inimigo
_Ah, eu sei você é

Anima Populi
_Sim, sou eu que você odeia
Eu vivo no aroma da brisa
Na bruma que perfuma
Na travessura da criança
Na vida da comunidade
Na gota de esperança
Sou aquela que medeia
Que entre os seus, clareia
Alegro-me com quem se alegra
Também choro com quem chora

Leviatã
_Você não pode comigo
Nos meandros deste mundo
Quem se levanta, castigo
E torno infecundo

Anima Populi
_Está errado, muito errado
Ninguém mata uma ideia
Eu sou tudo que dá liga
No seu mundo despedaçado
Eu sou a chama da vida
A promessa vivida
No seu mundo ignorada

Leviatã
_Cale-se, não diga mais nada!

Anima Populi
_Esses que você esmaga
São o sal da Terra
Esses que você eleva
São o caos e a guerra
Esqueceu-se de quê
Você também morre
Não é eterno, do pó ao pó
Do pó veio, ao pó vai e só

Leviatã
_Cale-se, eu tenho hordas
Cale-se, eu tenho hostes
Manejo tudo com cordas
Penduro todos em postes

Anima Populi
_Não, você perdeu seu poder
Que nem mesmo poder era
Eram correntes que prendiam
Nas quais só você prospera

Eu
_Estou preso na solidão
Como saio daqui?
Há um colapso
Na comunicação
Parece que ninguém
Consegue mais ouvir

Anima Populi
_Não tema pequeno ser
Tudo isso irá passar
Todo teu sofrer
Tem dia pra acabar
O tempo faz e desfaz
Tudo faz aparecer
Tudo faz acabar

Eu
_Mas algo preciso fazer
Ninguém pode me ouvir
Não sei por onde começar
Se fico ou se devo partir

Anima Populi
_Não tema o inimigo
Ele perdeu os limites
As palavras morreram,
Agora, os servos dele
Também se perderam
No caos reinou
No caos acabou
Todos contra todos
É o que restou
Para este rei sem trono
Que não pode ser dono
Do coração do povo
Pediram a cabeça dele
Todos contra todos
Das suas hostes
E das suas hordas
Nada restou
A semente que semeou
O caos que provocou
Engoliu-o sem dor

Anima Populi e o Coro
_Sem amor
Nada resiste
Nada subsiste Nada mais triste
Que a vida sem amor

Eu
_E agora, o que houve
Com o Leviatã?

Anima Populi
_O ódio devorou
Todo ódio que criou
Toda a discórdia
Toda a canalha
Toda a opressão
Entrou em curto
Em curto-circuito
E o destruiu
E o esmagou

Eu
_Do próprio veneno
Se embebedou, bebeu,
E com quem o seguiu?
O que aconteceu?

Anima Populi
_Dispersaram-se alguns
Outros afundaram com ele
Os dispersados ainda acordarão
Do sono de morte que estavam
Da malvadeza induzida,
Vão cair em si com o tempo

Eu
_Como eu saio daqui?
Dessa prisão imposta
De grande solidão
Como sair?

Anima Populi e o Coro
_Com o tempo os todos
Vão se encontrar,
Vão se acordar,
Alguns, se perdoar
Sentirão saudades do tempo
Em que havia alegria comum
Em que caminhávamos
Para a justiça
Caminhada interrompida
Para cair cada um por si
Na armadilha traiçoeira
Em direção ao abismo
De ideias sem poesia
Sem canção,
Sem dança,
Para embalar-nos

Anima Populi e Eu
_Viva a alegria!
Vivam as crianças!
Viva a beleza!
Que trazem esperança
Que trazem
Certezas sem relevância
Tudo em consonância
Com a canção estrelar
A dança das esferas
Que ao ouvir cantar
Tudo regenera

O Coro e Eu
_Agora é hora de refazer
O que o monstro desfez
Armas desmanteladas
E história costurada
Memória reabilitada

Nunca mais torturados
Direito reparado
Meio ambiente salvo
Exigência da civilização

Machismo desfeito
Respeito à religião
Ciência reensinada
Liberdade alcançada
À felicidade unida
Confiança refeita
Violência acabada
População protegida

Cobertor no frio
E quente, o pão
Escutar o sofrer
De quem sofre
Sofrer com sentido
E ser preenchidas
De novas cores
As velhas dores

Mentiras clareadas
Leitura reeducada
Do malandro, um grão
Para não cair mais
Na manipulação

Laços reatados
Justiça reativada
O processo devido
Para todos do mundo
Presos em prisão
Provisório ou não
Presos em manicômio
Irrisório ou não
Desfazer asilares
Depósitos de gente
Precisa pagar, paga,
Paga com dignidade

Inclusão criada,
Inclusive, para deficientes
Antes de grupos
Quem são os inclusos?
São pessoas

O roubado devolvido
Integridade devolvida
Verdade reconstruída
Hipocrisia desfeita
Sortilégios anulados

Beleza construída
Alteridade, liberdade
E felicidade estabelecidas
Por toda a cidade
No mundo em toda parte
Literatura, pintura, cultura
Costura, ciência e arte

Diálogo restabelecido
Até entre inimigos
E o amor entre amigos
Amor, amor mesmo,
Respeito e consideração,

Panfletos desconstruídos
Ler e escrever o futuro
Pintar flores no muro
Com letras brilhantes
De muitas cores
E muita emoção

Trabalho digno
Sem desrespeito
Sem exploração
Apenas trabalhar
Em troca do pão
E alguma diversão

Sem inimigo comum
Sem inimigo nenhum
O governo pelo medo
Negado e renegado

E tudo fazer sentido
Acesso à informação
Sem algoritmos
Que distorcem a visão
Dos ritmos do mundo
Mecanismos
Que jogam-nos uns
Contra os outros
No ódio disseminado
Chega de dissimulado!

A cada um o merecido,
De cada qual, a identidade
Vamos, e um pouco de fé
Significa esse retrabalho
Assim é a vida, assim vida é,
Uma colcha de retalhos

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