O sol da primavera invadia os recintos obliquamente. No átrio central homens e mulheres comiam, bebiam, falavam, e se fartavam à luz amarelada e intensamente brilhante. Aquele centro de uma antiga idéia agora se tornara vestígio erguido à pedras, argilas e outras matérias.
Molly os servia, e se sentia mal por isto.
Quando em seu coração pressentiu uma intensa emoção, e tomou-lhe o lugar uma visão à noroeste. Um fabuloso Leão Vermelho respirou sem ruído algum, como rugisse mudo. Mesmo com a crueldade daquele olhar, entendeu o recado: "Cale-se, esconda-se, e eu poupo-lhe a vida".
Com o corpo hirto de pavor cambaleou até um cômodo escuro, atrás de si.
Um monstruoso barulho veio lhe preencher os ouvidos, e tomar conta do ambiente. sinfonia de ossos se partindo, gritos humanos, móveis despedaçando-se. Aquele medo em Molly foi se transformando em música que a remetia aos sons naturais, como cachoeiras e canto de pássaros, uma música imprevisível, um jazz.
Os gemidos ainda estavam sendo emitidos quando ela saiu, sentindo a ausência da fera. Tudo ia se tornando silêncio.
No chão muito sangue, em poças, em pedaços de mesa, em pedaços de gente. Só foi devorado das vítimas os olhos e os corações. Abaixou-se e com os dedos cruzados numa das poças provou do sangue fresco. Ouviu uma voz:
"Ouça menina, vá embora, sua vida se renova nesta hora, não existem mais ninguém que lhe possa escravizar, eu trouxe-lhe a salvação. Seu batismo foi de SANGUE"
Assim proverbiou a Águia Dourada, e seu olhar era como se pudesse devorá-la, mais já estava saciada.
A simetria se reconstituiu no tempo, enquanto o espaço se constituiu num templo.
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