segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Dias de Desafio - Capítulo I

Nêmesis

minha amizade consigo é fingida,
é para tirar vantagem de você,
não me interessa em nada a sua vida,
mas você sequer pode perceber,
quando acordar será tarde, querida.
só lhe restará o seu muito sofrer...
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

sim, beba seu veneno, beba odiando,
e ficar erma, deserta, incapaz,
de tudo que eu lhe tirei, lhe roubando,
mais prazer deu-me foi tirar sua paz,
gostei do que lhe causei, lhe acusando,
a dor, a ruína que a má fama traz,
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

sim, além de lhe roubar, eu menti,
disse muitas mentiras sem lugar,
sobre quem você era e não senti
remorso ou prazer ao lhe caluniar,
foi banal, não pensei e não pedi
permissão para esse mal lhe causar.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

vou matar seu filhos, roubar sua casa,
vou soltar seus cães, mutilar seu corpo,
vou lhe deixar em completa desgraça,
o que há de fútil, que há de torpe,
o que há de sofrer que nunca passe,
não sente nada quem já está morto.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

se ajoelhe e implore pelo seu fim,
no silêncio da teia da informação
nada escapa, tudo chega até mim
está sem saída, renuncia à razão,
renuncia ao sonho, aos afetos, enfim,
para viver, como eu, sem emoção.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

crianças abusadas e mutiladas,
mendigos incendiados, são atrações,
arte, ciência e pessoas são esfaceladas,
e não faltam redes de distrações
para a realidade ser ignorada,
não há quem possa ajudar, fica calada.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

tenho mais do que preciso, o dinheiro.
tenho mais do que preciso, o poder.
nessas atrocidades, sou inteiro,
contra mim há nada possa fazer,
contra mim há nada, sou ligeiro,
fico muito feliz com teu sofrer.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

mísseis, tanques, foguetes, explosões
estiletes, facas, foices, punhais,
adagas, arames, fuzis, canhões,
elementos de meus jogos mortais,
muitos megatons ao alcance de botões,
tem fósforo, dinamite e tem mais...
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

o jogo na cabeça será bruto,
tanto o sutil quanto o grosso, violento,
não lhe darei descanso, ininterrupto,
também não ouvirei seu amargo lamento,
que vai acabar em um cruel surto,
mas que não vai aplacar seu sofrimento.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

pretendo arrasar sua honra em frangalho
para só lhe restar viver na rua,
sem recursos para conseguir trabalho,
depois de destruir a cabeça sua,
seus bens por todo território espalho,
de maneira que o povo lhe exclua.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

tragédia é pouca para meu desprezo,
deixá-la andando na rua sem destino,
depois de perder tudo em um despejo,
tentando refazer seu desatino,
falando sozinha contra o desejo
de junto de amigos cantar um hino.
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

ser ou não ser, ter ou não ter, o quê?
bem presa no manicômio do crânio
longe é deixar viver, fazer morrer,
cicatrizes e placas de titânio,
seja fazer viver, deixar morrer,
que assim seja sem fim e instantâneo
não importa nada do que você pensa,
porque nem lhe sinto, sou indiferença.

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