personagens:
marla: a fada
ariela: a borralheira
lerna, selda e tlena: as irmãs malvadas
dramasta: a madrasta
fedro: o pássaro de fogo
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abertura
não se sabe se é verdade,
ou se o mundo esqueceu,
uma lenda tão antiga
que um dia aconteceu,
não esqueça que pode até ter
acontecido com você,
quem sofre perde o brilho
e só quem sofre não pode ver,
ora, a vida é tão bonita
que, surpreendentemente,
a circunstância toda muda
isso acontece a toda a gente
recupera-se o brilho,
pois é assim que deve ser
brilhando em quem a conta
brilhando em vocês
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ii - borralheira limpando (situação inicial)
lava daqui, lava de lá
tento sorrir,
me ponho a cantar
me sinto cansada
e começo a chorar
é muita louça, é muita roupa,
lixo pra fora, faço a faxina,
que pena, menina,
ninguém me ajuda
falo sozinha, ou fico muda,
trabalho me agrada,
mas isso não,
só eu sozinha
na solidão
fico com medo, tenho cansaço,
ninguém nem liga
para o que sinto,
queria carinho
e compreensão
mas se eu paro, não deixo pronto,
então apanho
que nem te conto,
queria carinho
e compreensão
menina,
não fique assim
um dia isso tudo terá fim
ariela:
limpa daqui, lava de lá
nada de obrigado, um carinho, um abraço,
poxa, que vida chata
já já estão de volta,
preciso terminar rápido
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iii - judiando
lerna: não terminou ainda?
selda: isso está demorando!
tlena: vou pegar a cinta!
dramasta: sua preguiçosa, você não presta pra nada, imprestável e sem vergonha, quero isso limpo hoje!
lerna: feiosa!
selda: nem se compara com a gente
tlena: você é uma coisa feia, suja e horrorosa!
dramasta: e não vai sair de casa até o próximo inverno! e se sair não volte! senão vai apanhar como nunca antes!
ariela: estou terminando (sussurro)
todas: cala a boca!
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iv - sonhando
meus trapos tão sujos
talvez não revelem
que trago aqui dentro uma roupa de luz,
um raio de sol me conduz
para longe e tão perto assim,
a beleza se esconde dentro de mim
sei que sim
sei que sim
a poeira na pele
talvez não revele
o brilho dos olhos que trazem estrelas,
numa noite escura ir vê-las,
lá fora e tão presas a mim,
a beleza se esconde dentro de mim,
sei que sim
sei que sim
os pés marcados
talvez alados
consiguam um dia levar-me daqui,
e no céu, um dia, então, vão sorrir
para cima e tão perto dos deuses,
a beleza se esconde dentro de mim,
sei que sim
sei que sim
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v - quando não se pode ser feliz
dramasta: o que é isso, ô feiosa, cantando? agora virou cantora? vamos parar e vai preparar o banho das suas irmãs, hoje tem festa!
borralheira: ?
dramasta: é, mas a feiosura mais horrenda não vai alugar nenhum!
borralheira: mas...
todas: vai apanhar se der mais um pio!
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vi - a fuga
sem medo e nada a perder,
na noite de lua em segredo, fugiu,
estrelas e nuvens no céu a luzir,
na terra, a floresta a podia esconder
ariela, que triste, de casa partiu,
chorando, mas sem sodade sentir,
as lágrimas que lhe estavam a escorrer
pra terra seca e de onde surgiu,
uma fremosa flor vermelha a se abrir,
um belo amor como nunca se viu,
antes, na terra, onde estava a sofrer,
antes do tempo de nunca sorrir,
estava contente como nunca sentiu,
pois o tempo chegara: de tudo esquecer!
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vii - a floresta, que linda floresta!
o verde, o canto da floresta,
me diz alguma coisa,
─os pássaros em festa─
me diz, como estou feliz,
eu não estou sozinha,
longe de quem não me quis
às vezes, é necessário estar sozinha pra pensar
às vezes, é necessário estar sozinha e sozinha ficar
a selva, as folhas caídas,
os pássaros brincando,
brincando na relva,
quem sabe eles sejam os meus amigos,
aqui não corro perigos,
aqui sei pra onde ir
de repente, vejo alguma coisa,
quem será essa senhora
comigo aqui e agora...?
olá, como vai você!?
e quem será você!?
meu nome é ariela!
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viii - o encontro com a fada
meu nome é marla,
sou a luz desta floresta,
sou a vida destes animais,
sou a brisa leve que encanta as almas sedentas de amor,
sou um pequeno momento na emoção de qualquer um,
posso lhe dizer...
se sente pequena e pobre,
mas respire fundo, sinta seus pés no chão,
o calor do seu corpo, e sua mente flutuar,
encontre você mesma no céu azul e na luz do luar,
seja feliz por dentro,
deixe desabrochar,
deixe a chama acesa
que é certo que encontre
sua própria beleza.
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ix - a luz
estou aqui,
estou em mim,
estou mais forte,
eu tenho sorte,
vou passar lá,
não vou perder,
o que está aqui,
brilhando em mim,
depois de tudo de tudo sofrer,
a vida encontrar,
a vida viver,
eu sou eu mesma,
eu sou bem forte,
eu sou aquilo,
que lhe trará sorte,
eu sou mais eu,
o mundo está aqui,
estou no mundo,
isto é viver
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x - aconteceu o quê? a ela ariela?
todas:
feiosa, o que aconteceu?
será que mais ninguém ninguém lhe bateu?
será que ninguém mais a ofendeu?
pois, se isso ocorreu
voltou para nunca mais sair,
estamos aqui para lhe ferir,
e, você, nunca mais vai esquecer,
mas, antes, diga de onde surgiu
a beleza que em você apareceu?
ariela:
ora, não digo se me machucar,
está aqui, pois, se o fizer,
e, por mais que o faça, vou me calar,
e a dor me fará, tudo esquecer
todas:
sem graça, me convenceu,
por enquanto, não vai apanhar,
mas diga logo e sem mentir,
de onde vem a beleza a luzir?
a beleza que em você apareceu!
ariela:
veio da fada da floresta senhora,
mas há um segredo a ser feito na hora,
que em frente dela estiver!
todas:
temos pressa, não podemos esperar,
quero saber, e vai me contar,
para quando, na floresta encontrar,
desejo tal beleza possuir!
a beleza que em você apareceu!
ariela:
façam naquela fada, exatamente,
tudo o que em mim querem fazer,
e, intantaneamente, esta beleza em vocês vai aparecer!
todas: quando a encontrarmos,
lerna: vou espancá-la
selda: vou machucá-la e xingá-la
tlena: vou esquecer o respeito, bater-lhe o peito,
queimar-lhe as mãos, e gargalhar até rolar no chão!
dramasta: vou fazê-la chorar, pelo prazer de vê-la sofrer!
pois desejamos co'esta beleza ficar,
a beleza que em você apareceu!
não deixarei que fique mais bela que eu!
tlena: nem eu!
selda: nem eu!
lerna: nem eu!
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xi - o encanto
todas:
vamos atrás
desta senhora,
já está na hora,
de nos transformar
vamos bater
nesta senhora,
pois é agora,
eu quero pra já
fedro:
vejam vocês,
bateram na fada
que ficou zangada
fada:
você, donzela,
lhe faço amarela,
com bolinhas rosas,
com a face horrorosa,
você vai ficar
você, rapariga,
lhe cresco a barriga,
coloco um bigode,
com rosto de bode,
você vai ficar
você, megera,
lhe deixo uma fera,
toda peluda,
cheia de lombriga,
você vai ficar
você, madrasta,
lhe deixo nefasta,
toda gosmenta,
ninguém aguenta,
seu rosto fitar
fedro:
assim ficaram,
não mais molestaram,
a linda, ariela,
e acabou-se a história
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xii - seu brilho
um dia depois do outro,
nada melhor pra esquecer,
a mesquinharia, egoísmo e inveja,
não sei pra quê
um amigo e também outro,
tudo melhor pra se lembrar,
a alegria, felicidade e companhia
de quem se quer
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xiii - primeiros motivos
quando acordares,
e tirar dos ares,
a dormência que a está atordoando,
cantarás mais alto,
pois darás um salto
sobre aquilo que a está encarcerando,
do nada ao cheio,
estarás em meio,
a alguma intuição que vem voltando,
menina cantarias,
novas harmonias,
vencerias o vazio que está rondando
para amar
para brilhar
pra onde foi teu sentimento?
para amar
para brilhar
pra onde foi teu sentimento?
se não puderes,
não te apavores,
pois é algo que se pode estar prevendo,
tua inspiração,
vem do coração,
só que, às vezes, ela está se escondendo,
parece pecado,
mas é um recado,
verdadeiro amor que vive sempre ardendo,
surpreenda-te
só nunca se ate,
à razão de um ser se contorcendo
para crescer,
para viver
pra onde foi teu sentimento?
para crescer,
para viver
pra onde foi teu sentimento?
e, em nossos dias,
o que tu farias?
contra o medo que vem nos engolindo?
um conto de fadas,
com almas podadas,
poderoso, escabroso e infindo,
te voltes contra isso,
faça algum feitiço,
tão ameno, tão sereno e tão lindo,
verás o vazio,
mas trarás o fio,
pra a saída de todos os labirintos
para sentir
para sorrir
pra onde foi teu sentimento?
para sentir
para sorrir
pra onde foi teu sentimento?
"xiii - primeiros motivos" foi originalmente composta por mim e um amigo da editoração, o Paulinho Godoy, e mais tarde (uns três anos depois) resolvi incluí-la nessa opereta, para terminar em grando estilo...
grato, paulinho!
segunda-feira, 4 de julho de 2011
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