sábado, 15 de dezembro de 2018

Brainstorm.

de noia em noia até a metanoia

debaixo do tempo tem um tempo
depois do destino outro destino
e eu aqui no seu mecanismo
de quebra-corações em massa
as flores perderam o aroma
as raízes estão sem chão
as vidas sem raízes nem asas
ó abre alas para o pólen passar
o medo e seu perfume
espalhados pelas coisas por aí
hoje não quero rimar
hoje não sei o que fazer
todo dia é importante
mais uma armadilha sua
senhor grande irmão
com seu olho gordo
me vigiando
e concretando
e bloqueando
e impedindo
e indo indo indo
nesse chão morto de asfalto
mais uma armadilha sua
o furo intolerável que busco
dia a dia manhã a noite
a cada dia de novo e de novo
não sei como terminar
esse poema em linha reta
o fingido fingidor
fingindo que finge fingir
calculando os ganhos
engolindo as perdas
hoje não tem métrica
o ritmo sumiu
e eu nem consigo
brainstorm vomitado no papel
papel social
papel de ator
e documentos de papel
não posso carregar
o que não me aceita

tempo contente que vai sempre em frente

tempo sutil com seus detalhes mil

tempo maluco do meu relógio cuco

tempo ruim que vai chegar ao fim

Fazendo Rituais.

vou lhe falar das coisas tais
e eu aqui fazendo rituais

por fora das questões legais
e eu aqui fazendo rituais

mergulhamos todos anormais
e eu aqui fazendo rituais

embaralhados somos virtuais
e eu aqui fazendo rituais

sem resposta a homens e animais
e eu aqui fazendo rituais

perdemos todos os nosso ideais
e eu aqui fazendo rituais

sem noção das civilizações atuais
e eu aqui fazendo rituais

perdemos mesmo correndo atrás
e eu aqui fazendo rituais

não sabemos o que ficou pra trás
e eu aqui fazendo rituais

de tudo o que a saudade nos traz
e eu aqui fazendo rituais

enfim, estes versos pra nuca mais
de uma poesia de tempo jamais
e eu aqui fazendo rituais

Coisas com Palavras.

você vem e vai
chega e some
entra e sai
serve e come
assim sem nome
você vem e vê
tira e dá
vence e tem
aqui e lá
ali e acolá
faz mal
às vezes bem
você é alguém
que não posso ser
que não posso ver
que não ouso ver
que não ouso ser
tudo o que sumiu
também o que surgiu
sujeira e limpeza
feiura e beleza
alegria e tristeza
tudo isso
com certeza
são coisas com palavras
sobre a mesa.

Céu Azul.

céu azul
noite fria
hemisfério sul
hoje em dia
folha seca
vida verde
linha reta
muita sede
esse vazio
poeta vadio
conserta portas
muda as rotas
folhas mortas
tempo de estio
buscando estilo
achou motivo
pra terminar
isso aquilo
comida a quilo
frete abismo
só sabido
que foi lido
sabido o
esquecido
simples assim
acabou

Segredo, sucesso, sossego e sagrado.

Eu tenho medo
é desse sossego
tudo revirado
parado e atrasado
e nem é segredo
tampouco revelado
um tipo de limbo
nem lá nem cá
somos mortos-vivos
é preciso falar
mas poucos são ouvidos
massa hipnotizada
todos calados
eu tenho medo é desse sossego
alguns mal-falados
de fatos mal-vistos
atos palavreados

eu tenho medo
é deste sossego
ideias não mudam nada
é preciso fazer algo
o fazer, este horizonte
se descolou da vida
e estamos esperando
espera desesperada
e não acontece nada
ou acontece o de sempre

eu tenho medo
é deste sossego
que nem é mais segredo
que nem é mais sagrado
nada além de degredo
um outro arremedo
me apontando o dedo
para esse apego
que nem é mais segredo
que nem á mais sagrado
que nem é mais sossego
o desejo mais secreto

Black Fraude.

Black Fraude
tudo pela metade
do dobro do preço
quem tem amigo
quem não tem
não merece apreço

Black Fraude
tudo pela metade
do dobro do preço
eu estou contigo
vou sem bem
nada disso careço

Black Fraude
tudo pela metade
do dobro do preço
no tempo antigo
e hoje também
de tudo me despeço

Black Fraude
tudo pela metade
do dobro do preço
eu lhe convido
a ficar zen
tal qual mereço
ficar sem bens
então me despeço

Black Fraude
tudo pela metade
do dobro do preço
com migo sem tigo
o joio e o trigo
faça o que digo
senão dá tropeço
e como dá

faltando um pedaço também.

está faltando um pedaço
na sala cheia de móveis
eu sei, não sou de aço
minhas partes não são imóveis
meu sonho no espaço
vazio no seio dos mundos
eu sei, este meu destroço
por um coração vagabundo
está faltando um destino
ou coração com espinhos
ou paredes duras e lisas
preso nelas, paralizado
nesse buraco vazio
para encher de coisas
uma fresta que espio
um ramo de rosas
rosas pequenas
amarrada à antenas
atada à suas penas
tudo isso é apenas
a liberdade que foi embora
já passou da hora
é difícil lá fora
não sei como sobreviver
na situação de rua
grande medo
ou segredo
num degredo
na vida nua

eotavali.

estava ali perdido
sem saber o que fazer
sofrendo sem alívio
onde há mais prazer
sei que sem horizonte
o ontem e o hoje defronte
víveres aqui ali
me repetindo
me exaltando
me esvaindo
explodiu todo
o implodido
tudo fodido
nada espero

Contra a Privatização das Universidades Públicas.

Eu sei que neste blogue eu faço muitas críticas à ECA-USP. Mas minha intenção sempre foi a de que a vida de quem ingressasse nela, mesmo sendo marginalizado pela sociedade, como eu fui, tivesse uma vida um pouco menos difícil.

Vou resumir o que ocorreu:

Quando entrei na ECA-USP criaram lá uma regra: Ninguém é de Ninguém. Mas, esta regra não valia para todos, valia apenas a quem era de fora da sociedade. Eu, por exemplo. E, se ninguém é de ninguém, imagine qualquer direito autoral, ou seja, dependia de quem criasse algo, ele teria ou não teria sua titularidade respeitada. Não tive, a regra valia só pra mim.

Aquele estômago da indústria cultural me digeriu por completo, de maneira que nada sobrou pra contar a história. Era um laboratório de marketing, do qual ninguém me perguntou se eu queria fazer parte do experimento.

Mas, não era instituído formalmente pelas regras da universidade, era feito por fora, com a participação de alguns professores, mas não todos.

É isso. Ainda retomo esse blogue, contando a vida depois que o Lugar Nenhum se foi.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Com Texto Atual Dois

Meu filho morreu
sinto muita dor
ele morreu em meus braços
tinha sede e tinha dor
me disse que foi o blindado
toneladas de aço
um punhadinho de gente
a comunidade é boa
mas estamos em fogo cruzado
usava uniforme de escola
para quê, meu Deus?
cem tiros de fuzil?
com tiros de fuzil?
sobre a comunidade
e de helicóptero
não somos bandidos
bandido bom
bandido morto
nesta guerra de mentiras
dispararam de um lado
dispararam do outro
a gente bem no meio
deste comércio de armas
e de troca de propinas,
meu filho não é bandido

Com Texto Atual

Mãe, estou com dor,
nunca mais quero sentir esta dor,
mãe, estou com sede,
nunca mais quero sentir esta sede,
ele não viu, mãe,
meu uniforme de escola estou?

e se assinam os papéis
e se assassinam as pessoas
e o que podemos fazer?
os gastos com armas militares
são maiores que os gastos sociais

está na nossa massacrada constituição
e na nossa mais massacrada população
e quem se importa com justiça e paz?

quem tem privilégio não quer perder
quem não tem quer receber
quando poucos têm direito
direito vira privilégio

mataram a vereadora
crime sem solução
cinismo do poder público
um narco-bélico país
uma banana de nação

mãe, bandido eu sou?

Hipotermia

Hoje faz frio
o céu está nublado
há gente que fica sombrio
e gente que fica acordado
gelado até o osso
ou bem agasalhado
alguns com o sono da morte
que é um soninho agradável
e sem a quem recorrer
porque está sozinho desabrigado
tentando sobreviver
mas tem outros, porém
fingindo não saber
não dão valor ao que têm
por estar bem alimentado
comigo acho que foi sorte
não me encontrar neste estado

Sem Título Dois.

Já faz tempo
que não é assim
sentimento
que não tem fim
tá doendo
ansiedade sim
tou sofrendo
e dói demais em mim

outri dia o dia demorou
a acabar
neste minuto segundo
eu estou
a sufocar
ansiedade da maldade
estou perdido
vão me machucar

pensamento
tim tim por tim tim
assim assim
assim assim
o tempo passou
a noite chegou
chegou ao fim


Hómi Bobo

O homem e o meio ambiente
E meio ambiente destruído
O Homem fica doente
E o planeta poluído
e como a gente é inconsequente!
motor barulho
entulho lixo e ruído

Antimanicomial

Era uma vez,
nos anos 70,
um psiquiatra
preso na guerra
fez a experiência
acabar com os manicômios
naquela terra,
seu nome,
Franco Basaglia,
Junto com
Franca Basaglia,
Isso aconteceu
em Trieste na Itália

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Sem título.

Se você está preso
entre fé e razão,
use a imaginação.

Se você se cansou
de viver na solidão,
use a imaginação.

Se este sofrimento
aperta teu coração,
use a imaginação

Preso em pensamento,
tua segura prisão,
solte a imaginação.

Você precisa da chave
para abrir a gaiola
e, como uma ave, voar, ir embora.

use a imaginação,
solta a intuição,
não existe prisão,
voar, voar, querer ir embora
como uma ave.

domingo, 18 de março de 2018

eu agradeço muito aos versos do Chico:

"e todos os meninos vão desembestar!".
Senão, nunca mais esqueceria o sangue, o choque e a inação.

A avenida é movimentada, a uns quinze metros atrás da menina, a vó dela, sem poder acompanhá-la e desesperada. A menininha não viu o ônibus vindo de trás dela e ia correndo desembestada em direção à avenida. O ônibus pegaria a menininha em cheio. Haveria de pensar rápido, pulou na reta da menina com cara de bicho papão, não dava para alcançar a menina, não dava, não pulava 5 metros, não adiantava gritar, ninguém grita mais alto que um ônibus, o motorista freou, buzinou, não tinha visto a garotinha tão pequenina, ela parou no meio do percurso irritada com o bicho-papão, meio metro antes da catástrofe, deu tempo dele voltar para a calçada de maneira que o ônibus não passasse por cima dele por sua vez. É assim, um acidente, quando não ocorre, fica apenas na possibilidade. E a gente chega a pensar que nunca teria ocorrido. Foi muito bom saber antes que menininhas desembestam. E olhar pra avenida com olhos desembestados. Isso preparou o raciocínio rápido que foi necessário naquela hora. Um casal ao lado não viu absolutamente nada e continuou sua conversa informal.

deu pra entender?

sábado, 27 de janeiro de 2018

Jus Primae Noctis (Direito da Pernada).


Era uma vez, um homem chamado Bate-Moço, ele tinha uma esposa linda a Moça-Gato. Um amigo, o Super-Cara, se queixava de não conseguir namorada, sabe daquela lei chinesa, quem muito procura não pode escolher?

Então, Bate-Moço disse que poderia ajudá-lo. O Super-Cara ficou contente com o encontro às cegas arrumado pelo Bate-Moço. Era Moça-Maravilha, lindeza, inteligencia e educação. Super-Cara ficou muito feliz, encantado, mas...

Em pouco tempo, Bate-Moço estava com as duas. Fora apenas uma jogada esportiva, o Bate-Moço usou o Super-Cara para poder trazer para perto a Moça-Maravilha e pegá-la sem que sua esposa, a Moça-Gato, desconfiasse. Como pegou, não sem antes fazer um filho na Moça-Gato. Por garantia.

Super-Cara se desmanchou, quase enlouqueceu, não passava de um corta-luz, um cone-de-treino, um nada...

Não sabia como agir, se dizia à Moça-Gato da traição ou não, afinal, era amigo de todos antes do casamento e tals. Ou era apenas um objeto com o objetivo de virar furúnculo nas mãos do Bate-Moço. Dilema moral de início da idade adulta.

Bate-Moço ofereceu outro encontro às cegas, agora, com Mulé-Anêmona, uma dessas encalhadas do meio social do Bate-Moço que inverte todas as leis do Machismo. E assedia. Enfim, um nojo moral só. 

Chega de encontro às cegas, não é?

Super-Cara teve que fugir. Afinal, tudo o que Bate Moço queria era uma esposa bonita para Super-Cara de maneira que Bate-Moço pudesse dar pernada em Super-Cara sempre que quizesse. Sabe, aquele imposto da Idade Média? O Direito da Primeira Noite ou Direito da Pernada? Em que o Suserano come a esposa do vassalo na primeira noite? Pois é, seria isso e sempre, não apenas na primeira noite, e com exigência de segredo, afinal, toda a vida de Super-Cara estava cercada pelo modo de vida desse poderoso político ou empresário Bate-Moço, e se Super-Cara quisesse viver, seria assim.

Essa é uma fábula vultosa rodrigueana sem nenhum contato com a realidade brasileira da máfia no poder, aonde não existem super-heróis.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Leituras.


Estava tentando entender o verdadeiro sentido do livro na minha vida, no meu mundo. Senti que precisava entender este significado, pois estava deslocado, estava impreciso, estava me enganando. Hierarquizei meu consumo cultura. Se é que dá pra chamar assim. Algo formalista automático. Primeiro, leitura. Mesmo que minha atividade preferida seja composição e interpretação musical. Segunda, ouvir música. Terceira, internet, embora essa não possa faltar, muita coisa hoje é feita pela internet.. Quarta, filmes na tevê. A minha crença ruiu, pois percebi que meus caprichos não estava nos livros, porque raramente eu achava neles aquilo que eu esperava. Geralmente, eu achava algo melhor, às vezes, algo pior. Por isto era um engano. Então, olhei fundo dentro de mim e percebi que o livro deveria ter outra utilidade para mim. Bem, o livro é um caos de celulose e tinta seca quando não é aberto. Ele fechado não é nada. Mas, não era ele que precisava de uma nova significação na minha vida. Mas, eu frente ao livro. Jogo. Transe. Deslocamento.