sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Dessemantização III. Teoria de Referência

Quanto à inserção do Projeto de Pesquisa em um universo mais amplo é de se ressalvar que a semântica na linguística tem uma posição marginal pela dificuldade técnica de se determinar um objeto mais específico de pesquisa, sendo apriorístico, para a pesquisa sobreviver, a necessidade de atenção às propriedades gerais do objeto da semântica em direção às propriedades mais particularizadas (Duarte Marques), e em torno dessas propriedades gerais deve ser efetuada a pesquisa para que se descreva o objeto em área coligada à comunicação. Por outro lado a semântica é uma ordem de conhecimento das mais antigas em relação ao estudo da linguagem, sendo possível identificar a necessidade do ser humano em estabelecer, entender, desenvolver e identificar o significado de palavras, frases e sentenças entre aquelas atividades, científicas ou não, das mais antigas que se tem notícia.

Entretanto, em comunicação, quando se tem um emissor, um receptor e uma mensagem a ser transmitida por um canal, em se falando minimalisticamente, é necessário que se estabeleçam procedimentos teóricos (desde que se tem operado um estudo mais sistemático de comunicação) para se assegurar que o sentido seja interpretado, o mais fidedignamente possível, quanto ao resultado almejado pelo emissor da mensagem, logo o estudo da dessemantização é pertinente. Este sentido pode ser ampliado para interesses mais universais como cidadania, sociedade, história, e civilização, mesmo que não estejamos pressupondo um significado para qualquer conteúdo midiático.

Toda a comunicação tem um aspecto conteúdo e outro aspecto relação (Duarte Marques), significa afirmar que seu aspecto conteúdo pode ser modificado, segundo certas limitações, em outro conteúdo próximo ao primeiro. A esse fenômeno dá-se o nome de extensão (Ullmann) do significado a medida que cada vez mais coisas ele possa representar. Quando o significado é onerado excessivamente, o mesmo tende a desaparecer dando lugar a outro significado, como por exemplo a palavra Vossa Mercê e a palavra Você sem a formalidade alçada por aquela. Podem surgir novas significações de acordo com a extensão do sentido. Questiona-se a mídia devido à força comunicativa que ela tem. Por outro lado reconhece-se a possibilidade da mídia internet de poder diluir segundo uma população maior os efeitos gerais da mídia como um todo.

A Competência Linguística (Duarte Marques) do espectador perceber, aprender e apreender o significado das formas linguísticas, adaptado aqui pela capacidade de apropriar-se se uma proposição (Skinner), que é o sentido resultante da interação de dois significados para um indivíduo em seu Comportamento Verbal (Skinner). E ainda, levando em consideração, o conceito de caráter como aspecto do ethos comunicativo que significa, por sua vez, o ambiente que envolve o sujeito e também o conjunto habitual de suas atitudes. A dessemantização pertence a esfera conotativa da linguagem, e sua ação é quase um golpe sobre a a esfera denotativa, aonde o valor conotativo construído ao longo do tempo passa quase a ser a própria esfera denotativa. Pertinente se lembrar que em alguns veículos temos além do texto, a imagem, e muitas vezes a imagem em movimento, mas o texto, ao ser apresentado juntamente, com a imagem "ancora" o sentido dela, impõe os limites significativos dela.

Faz-se ressalva à diferença entre palavra e refente, a palavra é um termo genérico que compreende semântica, sintática, fonética e morfologia, referente é um termo que faz oposição, em Skinner, ao significado. Neste Projeto tem-se procurado utilizar adequadamente ambos os conceitos. Skinner por sua vez se utiliza de dois conceitos diversos para o comportamento verbal, que é o conceito de proposição e de sentença, que resumidamente significa que a proposição surge entre as sentenças que são produzidas de acordo com o significado que os sujeitos lhes atribui. Já o termo significante é o que faz oposição em Saussure ao significado, e não envolve contingências dos sujeitos como se dá em Skinner. Saussure ainda conceitua como sistema a inter-relação entre significante e significado, assim como o faz também Watzlawick. No entanto, este último faz uso do termo estrutura que é estranho a Saussure, mas antes é familiar à Jacobson. Aquele se utilizava apenas do conceito de significado, já Hjemlev dividia o significado em conteúdo e expressão. Para o estruturalismo, estrutura é o conjunto de faces de um objeto que não pode ser alçado por inteiro, só em partes. Na gramática gerativa, existem desempenho e competência, o primeiro se refere a eficácia de um texto, o segundo se refere à eficiência dos termos. Podem ser comparados latu senso com parole e performance de Saussure, respectivamente. O termo langue que significa língua, um produto social, se complementa à linguagem que é o conjunto de estruturas possíveis, já a utilização concreta é a fala, a língua se situaria entre os dois, mas contemplaria o Comportamento verbal Criativo (Skinner) enquanto Constelação Semântica seria privado de criatividade e com limites bastante fixados e imobilizados. Assim nesse projeto fez uma ligeira apropriação do sentido de Campo Semântico para fazer emergir o mecanismo de processo de formação de Tabus, a Dessemantização.

Toda essa comparação e situação epistemológica é resultado da comparação bibliográfica consultada para o presente projeto, foi preferível descrever amplamente sem entrar em pormenores específicos de aonde foi encontrado, autor obra, para facilitar a exposição, deixando a tarefa para depois.

Em Ullmann, pode-se justificar que a mídia não conseguiria executar o processo de dessemantização, por que a "Natura non facit saltus"(A natureza não dá saltos), qualquer que seja a mudança de sentido que uma palavra pode sofrer segundo a produção de Tabus deve haver sempre uma conexão entre o significado velho e o novo. O processo de modificação por dessemantização em é tanto mais possível, quanto menos concreto for o seu significado, quanto mais conceitual e mais genérico for o objeto que o denomina. Algumas tribo indígenas que possuem uma palavra para cada tipo de pássaro, enquanto um termo apenas genérico para todos os pássaros não existe. Desta maneira: existe uma palavra para um pássaro que é azul, outra palavra para um pássaro que é verde, mas nenhuma palavra para o conjunto genérico "pássaros". Da mesma maneira em alguma culturas não existe um significante que referencie liberdade, por exemplo, por ser um conceito abstrato. Para concluir, é tanto mais difícil dessemantizar um significante que identifique um pássaro azul, com bico, e algumas cores, conforme sua especificidade, do que uma palavra que não possui referencial concreto e consensual como a palavra corrupção. Ou seja, uma fonte de imprecisão é o caráter genérico de algumas palavras.

De Ullmann se retirou um importante conceito para este Projeto de Pesquisa, que é "um problema esquivo mas crucial a influência da linguagem sobre o pensamento", ou hipótese de Sapir-Wholf , Bacon também investigou nessa direção ao afirmar a tirania das palavras: "Os homens imaginam que suas mentes têm o domínio da linguagem, mas sucede que a linguagem é que governa suas mentes", que é um traço característico da influência da língua sobre o pensamento. Um exemplo capital se encontra na Obra "Semãntica, Introdução à Ciência do Significado" daquele autor:

"A relatividade da distinção das cores ajuda a explicar o comportamento de certos pacientes que sofrem de afasia, cujas reações às provas de cores foram tão irregulares que, no princípio, foram diagnosticados como daltônicos. Não havia, no entanto, nada de errôneo em seu sentido de cores, senão que haviam esquecido o nome das cores, e com elels haviam perdido a capacidade de ordenar suas sensações e dispô-las em um modelo significativo."

Existe na obra ainda um tópico sobre os artifícios fonéticos que poderia ser pertinente à crítica de modulação de voz quando um conceito "candidato" a Tabu é citado oralmente na programação como um todo.

Ainda na obra se Stephen Ullmann se encontrava a importância do Campo Semântico e a descrição de seu funcionamento na teoria da linguagem, que o autor retirou de Saussure para apresentar em sua obra. A Competência Linguística (Duarte Marques) do falante é limitada conforme se limita seu Campo Semântico (Saussure em Ullmann), devido a restrição de sua Contingência Verbal (Skinnner).

Em Mattelart, citando Katz, a mídia é um "mestre de cerimônias" que nos diz não o que devemos pensar, mas em quê se deve pensar, deduz-se daí que essa declaração implicaria em um avanço da semântica sobre a sintaxe, e resultam conceitos da relação sintagmática entre termos semânticos, resultando por sua vez uma semântica inesperada do aspecto sintático. Se de um lado temos a comunicação como ato verbal isolado, consciente e voluntário (Skinner), temos por outro lado a comunicação como processo social permanente que integra múltiplos modos de comportamento (Watzlawick). Em ambos os modos pode-se vislumbrar os desdobramentos no aspecto lexical de populações como decorrência da eufemistização de instituições, com a fabricação de premissas de Terceira Ordem pela mídia visando o processo eletivo. Ainda em mattelart, citando Katz:

"A influência da mídia é limitada (a seletividade dos receptores constitui obstáculo), não pode ser direta (pois existem intermediários como o meio, o canal), não pode ser imediata (pois o processo de influência requer tempo).

Dessa seletividade de que estamos falando quando se supõe que a mídia não diz o que pensar mas em que pensar, pois seria obrigatória a inexistência de obstáculo como a seletividade se receptores. No entanto, essa citação demonstra por que deve ser paulatina, lenta e estratégica a eufimistização de alguns referentes na mídia. As Premissas de Terceira Ordem são citadas em Watzlawick, e comparando-as com o que Skinner identificou como Contingência Verbal, esse é resultado dessa comparação: O hábito de adquirir informação pela mídia ocasiona a capacidade de tolerar ou não tolerar mudanças em contingências verbais, sendo que o seu pensamento passa a se limitar pelo verbal e não-verbal veiculados pela mídia, lembrando que o texto sempre ancora a imagem (Gestalt). Campo Semântico é a quantidade de associações que uma palavra permite que a língua estabeleça ao redor de seu sentido. "A partir de saturação do sentido por operação metonímica queimando etapas entre significados, e encurtando as distâncias para facilitar a rápida intuição de coisa já sabida"(M. Esnault em Ullmann), assim toma-se conhecimento da ocorrência de conteúdos subentendidos que podem ser pulados sem serem citados, mas já pré-estabelecidos em uma Constelação Semântica da qual o sujeito tem conhecimento, e se pode já projetar o surgimento de outras operações metonímicas com desenvolvimento "pejorativos ou evolutivos"(Ullmann). Tal operação por sintagma em palavras Tabus, saturam o sentido da palavra, frase ou sentença, e é como se a palavra fosse "pulada". Assim se interdita o significante com a oneração excessiva de seu significado, que é uma extensão ou Tabu de seu significado, apesar da repetição de seu significante no discurso da mídia. Desta maneira o código mantem-se nulo, e o feito limitador do Campo Semântico limita o pensar do sujeito. Pode-se observar que a palavra com seu sentido difuso e enevoado serve de "moeda" de negociação entre as empresas de veiculação e quem ambiciona o poder, mas não se pode afirmar que este seja um processo simples, direto e rápido, lembrando a citação de Katz, antes deste parágrafo. Mas, mesmo assim, a mídia consegue se apresentar como o portador mais qualificado do conhecimento. Já o Tabu constituído não se soluciona jamais, o que representa uma anti-pedagogia tecnológica. Assim não se pode utilizar, de maneira elucidativa, um Tabu, porque o significante não remete à um conceito claro.

Decidiu-se que seria mais pertinente ao escopo psicológico desse Projeto que se mostrasse a proximidade comparativa de duas escolas academicamente afins, que são o Behaviorismo Metodológico de B.F. Skinner e a Escola da Palo Alto de Paul Watzlawick.

Para isso se faz necessário lembrar que as teorias da Escola de Palo Alto são aplicáveis ao sujeito mesmo quando não há um veículo de intermediação, como um material ou canal, mas esta teoria acrescenta no sentido de que existe limites à comunicação e complementa às posições do behaviorismo que aceita que ocorra canais com entre os sujeitos que estabelecem comunicação entre si. Segundo Watzlawick e colaboradores não há comunicação isolada, ou seja se "b" influencia "a", então conseqüentemente "a" influencia "b", e se constitui sempre uma operação de dois sentidos, a comunicação. Ao se considerar que a linguagem como um sistema aberto, se observa uma limitação inerente à mídia, pois o Campo Semântico não poderia ser rígido, e não o é, mas disso se tem consciência quando se procura influenciar pessoas, ou massas, senão a Publicidade e Propaganda não teriam razão de ser. Acontece que no sistema de broadcast ainda é um pouco mais controlável, mas no sistema de redes digitais o conteúdo se torna mais volátil. Um sistema aberto é Global, isso significa que tem duas propriedades intrínsecas: Não-sumatividade e Não-unilateralidade. O sistema aberto é não-sumativo por que não pode ser desprezada a possibilidade do Campo Semântico se realinhar de outra forma, produzindo novos significados não controláveis, e sem unilateralidade, porque "b" influencia "a" e "a" influencia "b" enquanto este está influenciando "a", como já foi explicitado. A Escola de Palo Alto deixou em aberto a existência de uma mídia entre ambos, mas se aplicarmos a perspectiva ad infinitum, mostra-se desnecessária a existência de mídia entre ambos, uma suposição bastante ambiciosa que se faz mais pertinente deviso aos sistemas de rede se comunicação (P2P, web, internet, vida cotidiana, entidades sociais, entidades cidadãs). Assim fica caracterizada a circularidade natural entre os sistemas de comunicação, sendo necessário sempre contextualizar os sujeitos para compreender a interação deles com seu contexto, seu caráter, seu ethos midiático. Segundo a Escola de Palo Alto existem três modos de comunicação: Mensagem, Interação e Padrão que agem em um sistema. O padrão comunicativo é linear, o que pode ser pertinente às redes, assim:

Relato => Agente => Ordem

O sistema de interações entre indivíduos pode-se afirmar que é o resultado do conjunto de proposições possíveis em uma língua. O behaviorismo é útil, assim, ao estabelecer o conceito de contra-controle, que se pode visualizar ao se apresentar no modelo teórico, assim se procura desqualificar a tentativa da mídia de estabelecer controle com processos de formação de Tabus, se colocando como obstáculo temporário ao fortalecimento das instituições em oposição aos interesses individuais. A mídia, ao fomentar Premissas de Terceira Ordem, se mostra como um agente eficaz e poderoso, com suas contingências surgindo de paradoxos, e ao estabelecer as contingências na fronteira dos paradoxos, que é a formatação de tabus, pois o tabu é um paradoxo semântico, nada mais, estabelece os limites da vida privada. A Premissa de Terceira Ordem é descrita por Watzlawick e corroborada pelo comportamentalismo de Skinner, tal premissa é simplesmente o limite em que os seres vivos estão circunscritos, e que não conseguem ultrapassar sem viver uma espécie de terror. Deduz-se que além de ineficiente a insistência midiática de se manter com a produção de tabus, também é um sério risco à saúde das instituições, da sociedade e até mesmo da própria mídia.

Em Skinner, sobre o Comportamento Verbal Criativo:

"No comportamento verbal, como em todo comportamento operante, formas originais de resposta são suscitadas por situações as quais uma pessoa não foi anteriormente exposta... ...há processos comportamentais que ocasionam mutações... ...Assim devemos buscar: Um Ambiente construtivo, e não uma mente construtiva... ...o pensamento criador preocupa-se grandemente com mutações... ..diferentes história podem conduzir a diferentes cenários e novas respostas"

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