"Eu choro de cara suja,
meu papagaio o vento carregou
E lá se foi prá nunca mais,
linha nova que pai comprou
Dança Maria Maria,
lança seu corpo jovem pelo ar
Ela já vem, ela virá,
solidária nos ajudar
Não fique triste, menino,
a linha é tão fácil de arranjar
Venha aqui, venha escolher,
papagaio de toda cor
A casa estava escura,
no vento forte a chuva desabou
A luz não vem, eu aqui estou,
a rezar na escuridão e só
Venho no vento da noite,
na luz do novo dia cantarei
Brilha o sol, brilha o luar,
brilha a vida de quem dançar"
Beto Guedes
Assim morre a timidez.
A timidez, não é medo-de-mulher, como dizem os mais ‘machos’. Não.
A timidez é apenas medo. E, falta assunto, na maioria das vezes. Falta de assunto acompanhado de uma vontade colossal de ter-o-que-falar...
De tanto que se procura, nada se encontra, e chegamos a nos perder...
Pode levar à todo o tipo de esculhambação. Com razão. O pior dos medos é o medo-de-ser-feliz. Sem dúvida.
Mas, na desorientação, Ave Maria (Maria Maria), vem nos sussurrar palavras sábias (let it be – deschtá, como vovó já dizia e um desses ‘bitus’ aí) que linha-de-passe para conversar e palavrear tem de toda cor, e para começar: pode mesmo papagaiar...
Pq não?
Não há assunto especial. Nunca ninguém estará 100% pronto.
E daí?
O quê que tem receber uns ‘nãos’?
O quê que tem nada receber?..
Alguém quer algo além de trocar assuntos?
Por que a chuva desaba?
Por que rezar só?
Temer o quê?
Vem em um sussurro do vento da noite a resposta dos novos instantes: deschtá.
Deschtá... deschtá...deschtá...deschtá...’sussu’ nessas palavras: deschtá
tudo bem, sem comentários, há algo de verdadeiro aí, sem rancor, sem ódio, mas nesse momento o assédio moral da Bahiatursa ainda não havia me levado ao ambiente mental do surto.
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