sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo Final

como seguir?

que alma desalmada que sou?
que não consegui impedir
a destruição e a guerra?

sujas de sangue as mãos
suja de sangue a terra
tanta gente perdida
tanta gente morta
é o erro que a gente erra
a ilusão falida e torta
levou tantos à morte
e do inferno à porta
tudo o que não impedi
o que não pude evitar
tudo o que não pedi
essa luta de matar

que alma desalmada que sou?
que não consegui impedir
a destruição e a guerra?

como seguir em frente?
como seguir em frente?
como seguir em frente?

com sangue nas mãos
com que pés andar?
com sangue nas mãos
com que olhos olhar?
com sangue nas mãos
com que ouvidos ouvir?
com sangue nas mãos
com que coração sentir?
com sangue nas mãos
com que cabeça pensar?
com sangue nas mãos
com que cabelos enfeitar?
com sangue nas mãos
com que nariz cheirar?
esse cheiro de sangue
nas mãos?

que alma desalmada que sou?
que não consegui impedir
a destruição e a guerra?

como escrever uma história
de alegria, justiça e democracia?
com esse sangue nas mãos?

O Coro
_não se sinta assim
a história nunca chega ao fim
suas águas são agitadas
e nem todo barco
termina sua jornada
chore os mortos
lamente os perdidos
mas se ele tivesse vencido
não teria restado nada
seria escravidão disfarçada
e a mentira com sangue
inocente seria lavada
para parecer vitória
venha cá que lavo suas mãos
para você escrever a história
de hoje em diante sem servidão
com as tintas do coração

Sonhar com mãos dividindo o pão
Para partilhar um sonho bom
E, se quiser, poder chorar
Pelos daqui que estão longe lá
Amor de mãe, filho e irmão
Espalhados por toda a nação
Aqui e lá, em qualquer lugar

Passarinhos cantando
Estrelinhas dançando
E riachinhos sussurrando

Poemas nos documentos oficiais
Armas mesmas só flores astrais
Prisões, que não sejam mais precisas
Pois a vida, ela mesma, será preciosa

Viver com dom, um bocado de som
Estar ou não estar no mesmo tom
E, se quiser, poder cantar
Si, dó, ré, mi, fá, sol e lá
Cantora de qualquer canção
Aqui e lá, em todo lugar

Assim será uma história
De vida, alegria,
justiça e democracia
Escrita com as tintas
E as cores da emoção

Todo final é também um recomeço

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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo VII

Amor involuntário ao mal

Há cinquenta anos, cá, ditadura,
visava as crianças a Propaganda,
ninguém nem percebeu essa urdidura,
"e obedeça a ordem quando manda!".

Chapinhas tais que dão os refrigerantes
em coloridas fotos, futebol,
à infância eram muito fascinantes
jogadores, seleção nacional.

A gente vivia dia a dia enganado.
Violência, dor, censura, indignidade,
e até o adulto era ludibriado,...

...naquele tempo havia brutalidade.
Menino este que amava o Leviatã.
Passado pôde vir ao meu amanhã?

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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo VI

ao meu amigo,

Sr. Étienne de La Boétie,
sobre teu Discurso da Servidão Voluntária,

não existe sombra sem luz

não sei se sabes, mas és frágil como a flor
eu sou fraco e vulnerável, sinto frio e dor
se não formos todos por nós
quem será por nós?

tal ditador quer matar, todos contra todos,
assim sendo transformar-nos, tu e eu, em lobos
se estivermos, todos a sós,
haverá alguém atroz?

para seu findar podre, fez o ódio crescer em-si,
engolido finalmente, é o que resta aqui,
subsistir não sem um dó
transformar-nos no pó

foi assim que ele caiu
foi assim que ele morreu
estreitando a consciência
até soçobrar só violência
então, nas trevas do abismo
no seu insalubre maniqueísmo
uma luzinha no horizonte surgiu,
e todo mundo a seguiu
iluminou as trevas
iluminou os mortos
iluminou os vivos
o mundo caiu em si
e deixou o Leviatã só

contra um, quer ser, ou louco, ou pobre e só, tão só,
que não pôde ter defesas, tornou-se pó,
na contra-mão, chegou ao fim
do que somos aqui

e só, o Leviatã se mata a si mesmo
a tirania se volta contra o tirano
e os tiranizados perdidos exigem
a cabeça de seus semelhantes
para matarem-se entre si

mas nós sabemos a verdade:

a bondade é frágil perante a fortuna
qualquer coisa que nos una
qualquer coisa nos conduz
não existe sombra sem luz

como bem disseste que morreria a tirania


de teu amigo,
Sr. Qryz,
Terra, 5 de junho de 2525.

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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo V

Anima Populi

O Inimigo
_Peraí, quem é você?

_Sou aquela que vira o jogo
Sou feita de luz do Sol
Vivo no centro do fogo
Que seu poder eu dissolvo
Meu nome é Anima Populi
A alma do povo eu sou
Nenhum sonho matou
Porque sonhos não morrem
Nenhum de seus truques é novo
Nem o que deles decorrem

O Inimigo
_Ah, eu sei você é

Anima Populi
_Sim, sou eu que você odeia
Eu vivo no aroma da brisa
Na bruma que perfuma
Na travessura da criança
Na vida da comunidade
Na gota de esperança
Sou aquela que medeia
Que entre os seus, clareia
Alegro-me com quem se alegra
Também choro com quem chora

Leviatã
_Você não pode comigo
Nos meandros deste mundo
Quem se levanta, castigo
E torno infecundo

Anima Populi
_Está errado, muito errado
Ninguém mata uma ideia
Eu sou tudo que dá liga
No seu mundo despedaçado
Eu sou a chama da vida
A promessa vivida
No seu mundo ignorada

Leviatã
_Cale-se, não diga mais nada!

Anima Populi
_Esses que você esmaga
São o sal da Terra
Esses que você eleva
São o caos e a guerra
Esqueceu-se de quê
Você também morre
Não é eterno, do pó ao pó
Do pó veio, ao pó vai e só

Leviatã
_Cale-se, eu tenho hordas
Cale-se, eu tenho hostes
Manejo tudo com cordas
Penduro todos em postes

Anima Populi
_Não, você perdeu seu poder
Que nem mesmo poder era
Eram correntes que prendiam
Nas quais só você prospera

Eu
_Estou preso na solidão
Como saio daqui?
Há um colapso
Na comunicação
Parece que ninguém
Consegue mais ouvir

Anima Populi
_Não tema pequeno ser
Tudo isso irá passar
Todo teu sofrer
Tem dia pra acabar
O tempo faz e desfaz
Tudo faz aparecer
Tudo faz acabar

Eu
_Mas algo preciso fazer
Ninguém pode me ouvir
Não sei por onde começar
Se fico ou se devo partir

Anima Populi
_Não tema o inimigo
Ele perdeu os limites
As palavras morreram,
Agora, os servos dele
Também se perderam
No caos reinou
No caos acabou
Todos contra todos
É o que restou
Para este rei sem trono
Que não pode ser dono
Do coração do povo
Pediram a cabeça dele
Todos contra todos
Das suas hostes
E das suas hordas
Nada restou
A semente que semeou
O caos que provocou
Engoliu-o sem dor

Anima Populi e o Coro
_Sem amor
Nada resiste
Nada subsiste Nada mais triste
Que a vida sem amor

Eu
_E agora, o que houve
Com o Leviatã?

Anima Populi
_O ódio devorou
Todo ódio que criou
Toda a discórdia
Toda a canalha
Toda a opressão
Entrou em curto
Em curto-circuito
E o destruiu
E o esmagou

Eu
_Do próprio veneno
Se embebedou, bebeu,
E com quem o seguiu?
O que aconteceu?

Anima Populi
_Dispersaram-se alguns
Outros afundaram com ele
Os dispersados ainda acordarão
Do sono de morte que estavam
Da malvadeza induzida,
Vão cair em si com o tempo

Eu
_Como eu saio daqui?
Dessa prisão imposta
De grande solidão
Como sair?

Anima Populi e o Coro
_Com o tempo os todos
Vão se encontrar,
Vão se acordar,
Alguns, se perdoar
Sentirão saudades do tempo
Em que havia alegria comum
Em que caminhávamos
Para a justiça
Caminhada interrompida
Para cair cada um por si
Na armadilha traiçoeira
Em direção ao abismo
De ideias sem poesia
Sem canção,
Sem dança,
Para embalar-nos

Anima Populi e Eu
_Viva a alegria!
Vivam as crianças!
Viva a beleza!
Que trazem esperança
Que trazem
Certezas sem relevância
Tudo em consonância
Com a canção estrelar
A dança das esferas
Que ao ouvir cantar
Tudo regenera

O Coro e Eu
_Agora é hora de refazer
O que o monstro desfez
Armas desmanteladas
E história costurada
Memória reabilitada

Nunca mais torturados
Direito reparado
Meio ambiente salvo
Exigência da civilização

Machismo desfeito
Respeito à religião
Ciência reensinada
Liberdade alcançada
À felicidade unida
Confiança refeita
Violência acabada
População protegida

Cobertor no frio
E quente, o pão
Escutar o sofrer
De quem sofre
Sofrer com sentido
E ser preenchidas
De novas cores
As velhas dores

Mentiras clareadas
Leitura reeducada
Do malandro, um grão
Para não cair mais
Na manipulação

Laços reatados
Justiça reativada
O processo devido
Para todos do mundo
Presos em prisão
Provisório ou não
Presos em manicômio
Irrisório ou não
Desfazer asilares
Depósitos de gente
Precisa pagar, paga,
Paga com dignidade

Inclusão criada,
Inclusive, para deficientes
Antes de grupos
Quem são os inclusos?
São pessoas

O roubado devolvido
Integridade devolvida
Verdade reconstruída
Hipocrisia desfeita
Sortilégios anulados

Beleza construída
Alteridade, liberdade
E felicidade estabelecidas
Por toda a cidade
No mundo em toda parte
Literatura, pintura, cultura
Costura, ciência e arte

Diálogo restabelecido
Até entre inimigos
E o amor entre amigos
Amor, amor mesmo,
Respeito e consideração,

Panfletos desconstruídos
Ler e escrever o futuro
Pintar flores no muro
Com letras brilhantes
De muitas cores
E muita emoção

Trabalho digno
Sem desrespeito
Sem exploração
Apenas trabalhar
Em troca do pão
E alguma diversão

Sem inimigo comum
Sem inimigo nenhum
O governo pelo medo
Negado e renegado

E tudo fazer sentido
Acesso à informação
Sem algoritmos
Que distorcem a visão
Dos ritmos do mundo
Mecanismos
Que jogam-nos uns
Contra os outros
No ódio disseminado
Chega de dissimulado!

A cada um o merecido,
De cada qual, a identidade
Vamos, e um pouco de fé
Significa esse retrabalho
Assim é a vida, assim vida é,
Uma colcha de retalhos

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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo IV

Debacle de ideias

O Coro
Eis que o diálogo da vítima com o chacal, nada tão mau que não possa piorar, para evitar um mal maior, de todos contra todos guerrear, o homem lobo do homem criou o homem superior para pôr ordem e dominar o homem inferior esmagar, mas, para isso, precisou o caminho pavimentar e ai daquele que teve o azar de estar neste caminho...

O Inimigo
_Se você morrer ninguém vai sentir sua falta
Eu pressionei seu mal, e você ficou doente
Você é pobre, não tem nada e eu sou classe alta
De nada adianta, você tentar ser valente

Eu
_Ninguém escolhe ser louco
Gritei, gritei até ficar rouco
Você esmagou por tão pouco

O Inimigo
_Ninguém vai lhe ouvir
Nem tem para onde fugir
Não há lugar para escapar
A gente vale o que tem
E o que você tem?
Você nada tem,
Então você vale nada!

O Inimigo
_Você não passa de um mero inútil sem malta
Por desobediência você ficou demente
Enquanto eu vivo bem, aqui em plena ribalta
Junte tudo o que tem e seja inteligente

Eu
_Ninguém responde não ouço
Cadê a saída do calabouço
Você ignorou por tão pouco

O Inimigo
_Ninguém vai deixar sair
Não vai nem poder partir
Isolamento eu vou lhe dar
A gente vale o que tem
E o que você tem?
Você nada tem,
Então você vale nada!

O Inimigo
_A riqueza todo mundo inveja e exalta
Você, nem a si mesmo você é suficiente
Mediocridade visível aos olhos salta
Cortei o mal pela raíz, envenenei a nascente

Eu
_Ninguém ouve, estou maluco
Que parece um fundo caduco
Você maltratou por tão pouco

O Inimigo
_Ninguém lhe vai acudir
Nem vale em você cuspir
Não vale nem para matar
A gente vale o que tem
E o que você tem?
Você nada tem,
Então você vale nada!

O Inimigo
_Vou punir a sua ousadia
Por não ter sido obediente
Detesto a democracia
Olha só o que tenho em mente
Torná-la mercadoria
Nivelar todo o excelente
Para evitar histeria
Meu poder potente
Esmaga sua minoria
Fazendo você carente
É sua megalomania
Sim será sim um expoente
Caindo sobre si a fobia
De ter-me visto de frente
A solução, à revelia,
Recairá sob o sol quente
Secará no chão a semente
De tudo o que você cria
Veja como é uma idea atraente
Reduzir sua cantoria
A uma euforia indecente
Veja que aquela aporia
tornou-se pura torrente
De tola esquizofrenia
Canção de criação tão ausente
A fé virou patifaria
Vácuo na vida da gente
Razão virou idolatria
Não poderia ser mais fluente
Tal ideia de minha autoria
Reduzir todo o existente
A um efeito de alforria
É tudo o que eu queria
E vou tirar petente

O Inimigo
_Antes que pense que ficou tantã
Ninguém mais vai se importar com você
Não existirá nem mesmo um amanhã
Pois, dono de tudo, vou conceber
Uma tal fúria, tamanha titã,
Antes de todo mundo perceber,
Acabará sua vida cidadã,
E quem for contra mim, eu vou prender
Vai preferir morrer nesta manhã
Conhece este que fala com você?
Sou seu pior inimigo, o Leviatã

Eu
_Se é pra morrer,
quero morrer lutando! Você não vai me ver
Me ver chorando!

O Inimigo
_Pode crer

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Dias de Desafio - Capítulo III

Leviatã

Ele, nas melhores escolas
Ela, cuidando dos irmãos
Ele passava de ano com as colas
Ela estudava a muitas mãos
Ele sempre com grana em 'dollars'
Ela levava muitos nãos
Ele seguia com ideias tolas
Ela, raramente, ouvia bençãos
Ele que nunca dava esmolas
Ela sonhou seus sonhos sãos
Ele sonhava com pistolas
Um dia, ambos se encontraram
No outro dia, eles se separaram
Veja só a conclusão:

Ele
_Me dá mais um beijo?
Beber na sua taça?
Tudo o que desejo?
Amor que não passa?

Ela
_Não mais com você
Nada de trapaça
Você não me vê
Teu olhar me perpassa

Ele
_Tenho muitas posses
Não faça pirraça
Não faça esse doce
Lhe entrego de graça

Ela
_O que me importa
Consigo na raça
Sua conversa torta
Há muita na praça

Ele
_Você é sim meu bem
Amor assim não acha
Então passar bem
Tosco nosso racha

Ela
_Me deixa cansada
Nunca ouviu um não?
Acabou a estrada
Que dó e confusão!

Ele
_Não chame desgraça
Do que vai acontecer
Com a sua carcaça
Para você ver...

Ela
_Isso é uma ameaça?
Ouça este segredo,
O que quer que faça,
Eu não tenho medo.

Então foi desse jeito
Devia matar a piranha
Acho falta de respeito
Matar é uma façanha
Só não mato agora
Pois não é hora
Eu iria pra prisão
E como prisioneiro
Não poderia fazer dinheiro
E cumprir a intenção
Ficando bem mais rico
Eu poderei fazer isso
Hoje, não posso não
Preciso de muito poder
Um Estado Absoluto
Está, hoje, obsoleto
Um Mercado Absoluto
É a solução de hoje
Com a democracia
Pesos e contrapesos
Advogado, juízes, imprensa
Eu acabaria preso
Não faz mais sentido
Ser o Estado Absoluto
Melhor que absoluta agora
Seja a Corporação
Mando e desmando
Com o Estado Mínimo
Para não incomodar
Vão me acha cínico
Vou me empoderar
E controlar todo mundo
Vou bem no fundo
Ninguém pode evitar
Na guerra de
todos contra todos
O homem é o lobo
De outro homem
No topo da montanha
Um homem superior
Manda no inferior
E nenhuma piranha
Vai repetir a atitude
Melhor ser temido
Do que ser amado
Abaixo o Estado
Agora é a Corporação
Que ninguém tira poder
Não há comparação
Fazer o que quiser
Sem punição
E impedimento
Para alguém
Da minha posição

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