segunda-feira, 13 de abril de 2020

Escrita Dinâmica

Quando me olho, vejo terror
Talvez seja apenas dor
Quando me olho, vejo ternura
Talvez eu seja uma criatura
Quando me olho, vejo não sei

Eu me alegro quando vivo
Das coisas todas que me esquivo
Eu me alegro, quando vejo
Das tantas coisas que desejo
Eu me alegro

Quando você me olha
Me deixa sem escolha
Quando você me olha
Minha lágrima me molha
Quando você me olha
Até eu furo essa bolha
Quando você me olha

Neném

Neném

Eu me lembro quase neném.
A cabeça do meu pai
Era quase do meu tamanho
Ele colocou a bocarra como uma ventosa
Em minha barriga e soprou
Fez aquele som que eu nem sei
Se tem nome em nossa língua
Mas, é impossível colocar no papel

Ploooft

Eu desatei a chorar

Buuuaááá

E ele ainda bateu uma foto

Click

Na verdade, que bateu a foto

Hmmmm

Foi minha mãe
Eu chorando

Snif

E Ele rindo

Kkkkkk

Tenho essa foto
Eu acho

Vírus

Se acontecer o findar da Terra
É certo estar perdida a guerra
É a erva rachando o muro
É meu amigo o meu lado escuro

Face a face com o destino
Se revelou como desatino
Choro por medo da morte
Mas só chora quem é forte

Quem casa tinha para morar
Pediu proteção para o lar
E quem não tinha tal lugar
Temeu por sua vida acabar

E as pessoas descobriram o céu 
E as pessoas descobriram o mar
E as pessoas descobriram pessoas
E as pessoas descobriram a si

E as pessoas revelaram coisas boas
E as pessoas prepararam o altar
E rasgaram de cima abaixo o véu
E coisas fabulosas todas eu vi lá

E o agressor se revelou
E o dominador se esfacelou
E o assediador se desmontou
E o sol a tudo iluminou
Os segredos ficaram nus
Sob tão luminosa luz

A raça humana se viu frágil no espelho
A raça humana sentiu a poluição do ar
Não há, não há, como fugir daqui
O planeta não é descartável
Sem salvação nem pra mim nem pra ti
Isso, de falar, é desagradável
Nisso, de falar, eu sofri

Uma só pessoa vale a pena
Não é enquanto se salva um
Que outro destino se condena
Uma só pessoa vale a pena
Escolher quem vive ou morre
Não pode ser escolha humana
Um risco do qual a gente corre
Um risco para o mano e a mana
Queremos nenhum morto nenhum
Com o morto com ou sem grana

Amanhã contaremos partidas
Choraremos por elas
Amanhã sentiremos as faltas
Que fazem em nossas vidas
Abriremos portas e janelas
Nas grades que eram tão altas

E deixaremos entrar os quebrados
Aqueles que nós quebramos
Para que a solidariedade
Floresça como erva
E ouçamos uns aos outros
Como folhas ao vento.